Todas as semanas há o mesmo ritual:
De manhã faz-se a recolha de sangue para analisar se o corpo está em condições para receber quimioterapia. Um dos efeitos do tratamento é o inchaço dos braços e das pernas dificultando assim a recolha de sangue.
Na passada Segunda Feira, a minha mãe foi picada 12 vezes, sem que mesmo assim tenham conseguido tirar sangue suficiente para análise. Se à Segunda não se consegue, volta-se a tentar na Terça. Foi o que aconteceu esta semana.
Se a analise é bem sucedida, à tarde vamos para a Clínica de Stº António, na Reboleira, receber 2 tratamentos de quimioterapia. Ambos por via intravenosa, o que implica picar novamente o corpo outras tantas vezes. Ontem, a minha mãe recebeu o tratamento através de uma veia no pé. Quando tudo acabou já passava das 8 da noite. Fui buscar a cadeira de rodas e passamos à 3ª fase do dia.
Vamos para casa onde lhe ajudo a tomar banho, a vestir-se, dou-lhe o jantar e venho-me embora.
Hoje, ela sente-se estafada, mais logo começaram as dores e com um pouco de sorte não fará obstipação, vai passar os próximos dias deitada com dores, no sábado vai sentir-se muito debilitada, Domingo sente-se um pouco melhor e Segunda volta ao tratamento.
Tem sido assim desde há muito tempo.
Mas há dias melhores do que outros.
Há 3 anos que a minha mãe luta contra o Cancro.
Até Março passado eu acreditava piamente de que a minha mãe iria vencer mais este desafio na vida dela. Porém, por muita fé que se tenha, por muita esperança que nos ilumine, os exames são magnânimos: o cancro está a evoluir.
Seja como for, a minha mãe tem continuado a fazer os tratamentos.
A Quimioterapia é como o nome indica uma terapia através de químicos. Existem cerca de 8 químicos diferentes utilizados no combate e à erradicação das células cancerígenas. Para cada tipo de cancro, consoante cada tipo de paciente, existem diversas combinações de químicos diferentes.
Ao longo da sua jornada, a minha mãe já experimentou várias combinações e ontem ficamos a saber que nenhuma das duas combinações – que ela está neste momento a tomar – estão a fazer efeito.
Torna-se difícil sofrer e ver o sofrimento de alguém quando este sofrimento está a ser gratuito.
Aquilo que eu sofro não é nada, nada, rigorosamente nada … comparado com aquilo que a minha mãe sofre. Mas a verdade é de que por tão elevado amor que lhe tenho, não posso vê-la sofrer e não sofrer com ela, não chorar um pouco das suas lágrimas, não acalmar os seus gemidos, não abraçar as suas carências.
Tanto eu como a minha mãe, sentimos e sabemos que esta jornada aproxima-se do final.
Hoje marcaram-se novos exames. Mediante os resultados, a minha mãe vai decidir se vai ou não continuar a fazer quimioterapia.
Não quero soar pessimista ou fatalista - vocês sabem que eu não sou assim -, mas se há um desgaste, uma saturação por tanto “endurance” de sofrimento, a verdade é de que o pior ainda está para vir.
Row Row Row
Your boat gently down the stream
Merrly merrly merrly
Life is but a dream….
3 comentários:
quero que saibas que rezo por ti e pela tu mae....
que estou contigo ai no teu escritorio,na tua sala..na tua casa,
bem perto de ti....
continua a ter-te bem perto do meu coração...
eu estou aqui!!!!!!
Queria mandar-te um abraço fraternal. Tenho uma amiga que está a fazer quimioterapia... Rezarei hoje pela tua mãe também.
Um bem hajam sentido para vós.
Beijinhos
Helena
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